segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

GARY CHURCHILL



O título do filme em inglês, Darkest Hour (A Hora Mais Negra), pretende passar a imagem da desesperadora situação da Grã-Bretanha em maio de 1940, quando tudo indicava que a Alemanha ganharia a Segunda Guerra Mundial. Praticamente só, depois que as tropas de Hitler haviam subjugado quase todo o continente europeu, claramente despreparada para um novo tipo de estratégia militar e com todo o seu exército confinado nas areias de Dunquerque, a velha Albion esperava o pior. A alternativa da rendição com um mínimo de honra, com termos que a permitisse salvar pelo menos boa parte de seu império ultramarino, apresentava-se com a única saída viável para a maioria dos políticos britânicos.

Na verdade, Churchill, o homem que virou a maré adversa naquele terrível momento, disse exatamente o contrário na época. Num de seus mais inspiradores discursos (e foram muitos), ele declarou que, se a Nação sobrevivesse, dali a mil anos os historiadores se refeririam àquele período da história do povo inglês como “their finest hour”.  A sua hora mais esplendorosa.

Assim era o homem. Na minha modesta visão, Churchill foi o mais crucial político do século XX. Se não tivesse ocupado o posto de Primeiro Ministro e não houvesse acordado a tenaz fibra de resistência que fez seus conterrâneos suportarem meses de bombardeios devastadores, muito provavelmente o nosso mundo de hoje seria completamente diferente. Nas várias projeções feitas por historiadores e sociólogos, se a Inglaterra se rendesse, uma grande Europa pangermânica se perpetuaria por décadas. Os Estados Unidos não teriam adquirido a preponderância que têm hoje e a União Soviética teria sido derrotada pelos alemães. Com grande possibilidade, o holocausto desapareceria nas sombras de uma feroz ocultação e muitas regiões do planeta com forte ascendência alemã se tornariam parte do grande Reich. Winston Churchill, e só ele, foi o vetor do nosso presente.

Mas, eu não vim aqui falar dele. Isto eu já fiz há tempos no meu post “Símbolo” (aqui vai o link para quem quiser relembrar http://obpereira.blogspot.com.br/2015/02/simbolo.html.) O que eu quero comentar é a atuação extraordinária de Gary Oldman que o reviveu em “O Destino de Uma Nação”.

Vários grandes atores já viveram o papel. Bo Hoskins, Brendan Gleeson, Michael Gambon, Brian Cox e Albert Finney, entre outros, já puseram o charuto na boca para viver o famoso inglês. Em Inglorious Basterds, até Rod Taylor faz uma ponta como o velho bulldog. Mas, Gary Oldman faz mais. Como em outras atuações históricas, tipo Ben Kingsley em Gandhi, Daniel Day-Lewis em Lincoln, Meryl Streep em The Iron Lady e Helen Mirren em The Queen, Oldman não interpreta Churchill. Ele é.

Reconhecido como um camaleão, o londrino Oldman transitou com sucesso por papéis de vilão, de Lee Oswald a Dracula, de policial bonzinho como o James Gordon numa trilogia do Batman e de figuras inesquecíveis como Ludwig van Beethoven em “Minha Amada Imortal”. Além de ator completo, ainda toca vários instrumentos e canta, como fez em Sid & Nancy, filme no qual interpreta o músico Sid Vicious.

Ainda vi pouco dos outros candidatos ao Oscar de Melhor Ator. Mas o que vi de Gary Oldman em Darkest Night encheu-me os olhos. Do físico rotundo ao s sibilino (Churchill tinha um defeito de dicção característico), ele traz de volta o homem que mudou os nossos destinos.

Oswaldo Pereira
Fevereiro 2018



8 comentários:

  1. Feitos um para o outro. Adorei tb o Rei. Um ator que não sei quem é, mas é a cara da Rainha Elizabeth II. Queria rever a cena em que os dois conversam. Magnífica!

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    1. Grande cena, sem a menor dúvida. George VI foi um pouco como D. João VI. Despreparados para assumir o trono (não eram os primogênitos), ambos acabaram por tornarem-se reis decisivos.

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  2. Excelente, mesmo, a atuação de Gary Oldman como Churchill. Ótimo comentário o seu.

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  3. vi o filme fora do Brasil. não fosse por ele os rumos da guerra seriam outros. Tem um canal de tv aqui que transmite WWII in colours. É um revival de uma época terrivelmente cruente e coloca o papel desse grande homem no verdadeiro cenário em que sua atuação foi decisiva para mobilizar a velha Albion. Tenho uma taça aqui de uma coleção com frases famosas, algumas já lidas, outras aprendidas entre um gole de vinho e outro. A preferida é a definição de sucesso da lavra dele. "Success is the ability of coming from a failure into another without losing the enthusiasm".

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    1. Foi um dos maiores "frasistas" de todos os tempos. Como disse Halifax, quando Churchill reverteu a maré de desconfiança que dominava o Parlamento e "ganhou" o dia em seu primeiro discurso. Quando Chamberlain perguntou: "O que aconteceu?", Halifax repondeu: "Ele mobilizou a Língua Inglesa"...

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  4. Excelente filme, história bem realista , a força de um homem, incansável, acreditava e assumia suas escolhas até naquele terrível momento, não questionava, apenas sozinho revolvia sua decisão, determinava sua determinação.
    Achei um pouco exagerado o falar do artista, muitos riam no cinema.Mas, era hora para rir? Ficamos conhecendo mais os poderes na Inglaterra.

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    1. Quem riu no cinema não tem a menor noção de História. A dicção peculiar de Churchill foi uma de suas muitas marcas registradas.

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