O título do
filme em inglês, Darkest Hour (A Hora
Mais Negra), pretende passar a imagem da desesperadora situação da
Grã-Bretanha em maio de 1940, quando tudo indicava que a Alemanha ganharia a
Segunda Guerra Mundial. Praticamente só, depois que as tropas de Hitler haviam
subjugado quase todo o continente europeu, claramente despreparada para um novo
tipo de estratégia militar e com todo o seu exército confinado nas areias de
Dunquerque, a velha Albion esperava o pior. A alternativa da rendição com um
mínimo de honra, com termos que a permitisse salvar pelo menos boa parte de seu
império ultramarino, apresentava-se com a única saída viável para a maioria dos
políticos britânicos.
Na verdade, Churchill,
o homem que virou a maré adversa naquele terrível momento, disse exatamente o
contrário na época. Num de seus mais inspiradores discursos (e foram muitos),
ele declarou que, se a Nação sobrevivesse, dali a mil anos os historiadores se
refeririam àquele período da história do povo inglês como “their finest hour”. A sua
hora mais esplendorosa.
Assim era o
homem. Na minha modesta visão, Churchill foi o mais crucial político do século
XX. Se não tivesse ocupado o posto de Primeiro Ministro e não houvesse acordado
a tenaz fibra de resistência que fez seus conterrâneos suportarem meses de
bombardeios devastadores, muito provavelmente o nosso mundo de hoje seria
completamente diferente. Nas várias projeções feitas por historiadores e
sociólogos, se a Inglaterra se rendesse, uma grande Europa pangermânica se
perpetuaria por décadas. Os Estados Unidos não teriam adquirido a
preponderância que têm hoje e a União Soviética teria sido derrotada pelos
alemães. Com grande possibilidade, o holocausto desapareceria nas sombras de
uma feroz ocultação e muitas regiões do planeta com forte ascendência alemã se
tornariam parte do grande Reich. Winston
Churchill, e só ele, foi o vetor do nosso presente.
Mas, eu não vim
aqui falar dele. Isto eu já fiz há tempos no meu post “Símbolo” (aqui vai o link
para quem quiser relembrar http://obpereira.blogspot.com.br/2015/02/simbolo.html.) O que eu quero comentar é a atuação
extraordinária de Gary Oldman que o reviveu em “O Destino de Uma Nação”.
Vários grandes
atores já viveram o papel. Bo Hoskins, Brendan Gleeson, Michael Gambon, Brian
Cox e Albert Finney, entre outros, já puseram o charuto na boca para viver o
famoso inglês. Em Inglorious Basterds, até
Rod Taylor faz uma ponta como o velho bulldog.
Mas, Gary Oldman faz mais. Como em outras atuações históricas, tipo Ben
Kingsley em Gandhi, Daniel Day-Lewis
em Lincoln, Meryl Streep em The Iron Lady e Helen Mirren em The Queen, Oldman não interpreta Churchill. Ele é.
Reconhecido como
um camaleão, o londrino Oldman transitou
com sucesso por papéis de vilão, de Lee
Oswald a Dracula, de policial
bonzinho como o James Gordon numa
trilogia do Batman e de figuras inesquecíveis como Ludwig van Beethoven em “Minha Amada Imortal”. Além de ator
completo, ainda toca vários instrumentos e canta, como fez em Sid & Nancy, filme no qual interpreta
o músico Sid Vicious.
Ainda vi pouco
dos outros candidatos ao Oscar de Melhor Ator. Mas o que vi de Gary Oldman em Darkest Night encheu-me os olhos. Do físico
rotundo ao s sibilino (Churchill
tinha um defeito de dicção característico), ele traz de volta o homem que mudou
os nossos destinos.
Oswaldo Pereira
Fevereiro 2018
Feitos um para o outro. Adorei tb o Rei. Um ator que não sei quem é, mas é a cara da Rainha Elizabeth II. Queria rever a cena em que os dois conversam. Magnífica!
ResponderExcluirGrande cena, sem a menor dúvida. George VI foi um pouco como D. João VI. Despreparados para assumir o trono (não eram os primogênitos), ambos acabaram por tornarem-se reis decisivos.
ExcluirExcelente, mesmo, a atuação de Gary Oldman como Churchill. Ótimo comentário o seu.
ResponderExcluirObrigado, Ana. Será que ele leva a estatueta?
Excluirvi o filme fora do Brasil. não fosse por ele os rumos da guerra seriam outros. Tem um canal de tv aqui que transmite WWII in colours. É um revival de uma época terrivelmente cruente e coloca o papel desse grande homem no verdadeiro cenário em que sua atuação foi decisiva para mobilizar a velha Albion. Tenho uma taça aqui de uma coleção com frases famosas, algumas já lidas, outras aprendidas entre um gole de vinho e outro. A preferida é a definição de sucesso da lavra dele. "Success is the ability of coming from a failure into another without losing the enthusiasm".
ResponderExcluirFoi um dos maiores "frasistas" de todos os tempos. Como disse Halifax, quando Churchill reverteu a maré de desconfiança que dominava o Parlamento e "ganhou" o dia em seu primeiro discurso. Quando Chamberlain perguntou: "O que aconteceu?", Halifax repondeu: "Ele mobilizou a Língua Inglesa"...
ExcluirExcelente filme, história bem realista , a força de um homem, incansável, acreditava e assumia suas escolhas até naquele terrível momento, não questionava, apenas sozinho revolvia sua decisão, determinava sua determinação.
ResponderExcluirAchei um pouco exagerado o falar do artista, muitos riam no cinema.Mas, era hora para rir? Ficamos conhecendo mais os poderes na Inglaterra.
Quem riu no cinema não tem a menor noção de História. A dicção peculiar de Churchill foi uma de suas muitas marcas registradas.
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