Fica perto de Berlim.
E, depois de se deliciar com os encantos dessa fantástica capital, vale a pena
programar uma ida até lá. Estou falando de Potsdam.
Para quem se interessa
pelo passado recente, o nome evoca uma histórica Conferência de Paz. Entre 17
de julho e 2 de agosto de 1945, os três grandes vencedores da Segunda Guerra
Mundial reuniram-se no Palácio Cecilienhof, uma elaborada construção erigida entre
1914 e 1917 pelo Imperador Guilherme II para seu filho. As reuniões decidiram o
futuro do mundo no pós-guerra e, segundo vários analistas, semearam as sementes
da divisão que iria, logo a seguir, empurrar o planeta para a Guerra Fria.
Muitos creditam à
ausência de dois dos líderes que haviam derrotado os nazistas (Churchill, que
já estava em Potsdam quando recebeu a notícia de que não havia sido reeleito
para o cargo de Primeiro Ministro, e Roosevelt, falecido em abril), os ganhos
obtidos pelos soviéticos nas negociações. Clement Atlee, pelos britânicos, e
Harry Truman, pelos americanos, estavam “verdes” demais para enfrentar Josef
Stalin.
Outro acontecimento
importante foi a ordem, emitida por Truman enquanto se encontrava em Potsdam,
para o lançamento das duas bombas atômicas contra o Japão, encerrando o último
capítulo da Segunda Guerra.
Dividida a Alemanha,
Potsdam ficou no Leste, mas encostada no muro. Lá ainda assombram os edifícios
das instalações da sinistra KGB e a Glienicke
Brücke, mais conhecida como a “Ponte dos Espiões”, cenário de tensas trocas
entre os dois lados.
Mas, se nos
encaminharmos para traz no tempo, vamos encontrar uma emblemática figura, a
quem a cidade deve inteiramente o seu charme cosmopolita, sua elegância leve e
imponente ao mesmo tempo, seu rococó iluminado.
Trata-se de Frederico
II, rei da Prússia entre 1740 e 1786. Exemplo mais que perfeito do absolutismo esclarecido, Frederico o
Grande foi um homem ambivalente. Músico, poeta e filósofo de um lado, era a
antítese de seu pai, o austero Frederico Guilherme, o Rei-Soldado. Na sua outra
vertente, foi um dos mais extraordinários comandantes militares de todos os
tempos, capaz de liderar e vencer campanhas contra inimigos vastamente
superiores em números. Brilhante estrategista, consolidou e aumentou o tamanho
da sua Prússia. Simultaneamente, era amigo de Voltaire e exímio flautista. Esta
dupla personalidade revela-se de maneira inequívoca em duas magníficas obras de
arquitetura que mandou construir.
Uma é o Palácio Sanssousci.
Sem problemas. O nome diz tudo. Era
aí, numa delicada sequência de salões e quartos, flanqueada por alegorias
gregas e tendo à frente um magnífico jardim de vários níveis e inúmeras fontes,
que o rei se reunia com sua entourage para
se dedicar a intermináveis horas de lazer. Mulheres estavam na categoria de problemas e não eram convidadas. E a
homossexualidade de Frederico não é segredo para ninguém.
Outra é o Neues Palais, o Palácio Novo. Símbolo de
poder e de riqueza, foi construído após a vitória prussiana da Guerra dos Sete
Anos, justamente num momento em que os cofres do reino estavam vazios. A
intenção era mostrar que o país mantinha-se forte, invencível.
NEUES PALAIS |
É uma lápide simples,
na ponta de uma pequena galeria de esculturas neorromanas. Ao lado, doze campas
menores marcam o lugar onde estão enterrados seus amados cães.
O nome do rei está
quase apagado. Em cima da pedra, não há rosas. Há... batatas. Foi Frederico
que, vencendo muita resistência, introduziu o plantio do tubérculo na Prússia.
Salvou o país da fome.
Assim como
entrelaçou seu nome na alma de seu povo e na aura suave e eterna de Potsdam.
Oswaldo
Pereira
Julho
2017