segunda-feira, 13 de setembro de 2021

PAPO DE BAR - GOLPE DE MESTRE



Uma segunda-feira mortiça, de ressaca. Como todas...

O país ainda parece estar deglutindo (o que pode significar saboreando para uns e ruminando para outros) a semana anterior. Até mesmo no Zanzibar.

«Viu? Ele teve de voltar atrás. Ultimato é coisa séria. Blefaram alto e agora tiveram de mostrar as cartas. Nem conseguiram tirar os ministros do STF e nem vão ter voto auditável. A famigerada paralização dos caminhoneiros deu chabu. E o Zé Trovão foragido. Papelão...»

«Papelão? Acho que você não está analisando direito as coisas, Antonia...»

«Analisar? Não há nada para analisar. Milhões foram às ruas pedindo duas coisas. E nenhuma das duas aconteceu. Meio frustrante, não? Duvido que se consiga repetir uma manifestação igual a esta. Era o vai ou racha. E rachou...»

«E você acha que o verdadeiro objetivo de botar o povão nas ruas era entregar um ultimato?»

«E não era? Vamos dar 72 horas. Senão atenderem, vamos cercar Brasilia e parar o país. Se ainda assim não agirem, vamos invadir... Não era este o refrão? Fora Moraes e Barroso... Cadê? Pelo que me consta, os dois continuam usando suas togas...»

«Pensa um momento, Antonia. Imagina que tudo isso é uma mesa de pôquer. O jogo que o Governo tinha nas mãos não era um ultimato. É claro que se sabia que um pedido destes era impossível de ser cumprido sob pressão. Pelo menos não dentro das regras constitucionais. Ultimatuns só permitem duas atitudes: a aceitação ou a guerra. E esse não era o jogo do Governo. O seu royal straight flush era a imagem do povo nas ruas, na gigantesca demonstração de apoio, no explícito repúdio popular aos desmandos do Supremo e à canalhice dos políticos. Foi isso que Bolsonaro jogou na mesa.»

«Não entendo nada de pôquer. Só sei que ficou tudo como antes. Moraes continua Moraes, Barroso continua Barroso. A famosa carta à nação acabou sendo um mea culpa, nada mais.»

«É aí que você se engana, minha querida. Esta famosa carta é de um primor estratégico que faria Maquiavel levantar os polegares. Ela nasceu de um acordo costurado com todos os atores importantes desta saga. Um acordo que vem atender a tudo que o Governo reivindicava, principalmente o fim do protagonismo do Supremo, o inquérito da fake news nas mãos da Procuradoria, um Congresso que praticamente sepultou a chances de impeachment. O único compromisso do Presidente foi o de segurar os caminhoneiros. De uma tacada, ele afastou todos os fantasmas. Em vez do Golpe! gritado pela esquerda, Bolsonaro fez sim um golpe. De mestre...»

«E você acredita neste suposto acordo? Desde quando a ovelha faz acordo com lobos? E mais. Se o acordo fosse para valer, seria o fim da oposição. O fracasso das passeatas da esquerda ontem está deixando a turma antibolsonarista com os cabelos em pé. Acha que ela vai deixar barato? Esse acordo tem toda chance de não vingar. E aí?»

«Aí Bolsonaro tem tudo para alegar que foram os outros que repudiaram seu aceno de paz. E partir para uma coisa que até um que não entende de pôquer conhece. Virar a mesa...»

Oswaldo Pereira

Setembro 2021