A
idade avançada traz, ou deve trazer, até como compensação pelos achaques, dores
de coluna, artroses e outros inconvenientes, uma visão relativista das coisas.
Temos, nós os velhos, a prerrogativa de utilizar o extenso tempo vivido para
sedimentar nossas experiências e nos conceder um modus operandi de
encarar as coisas temperado de calma e perspectiva.
Os anos, muitos, sevem de amortecedor contra as reações violentas, as discordâncias ácidas, as paixões irremediáveis e os confrontos diretos. Muito pouca coisa tem a força de nos fazer sair da redoma de tranquilidade que o tempo nos conferiu. Este que vos escreve, inclusive, tem por índole sempre tentar descobrir o que move uma posição antagônica à sua, apurar a eventual verdade num contraditório. Meus amigos, creio, podem atestar o que digo, e meu signo de Libra e minha formação de advogado certamente têm a ver com isto.
Mas, há dias, uma coisa me tirou poderosamente do sério. E, como sei que possuo, na minha modesta lista de recebedores deste blog, vários parentes e amigos em Portugal, senti-me na obrigação de externar esta justificada revolta.
O canal português de televisão SIC (Sociedade Independente de Comunicação) entrou no ar há 25 anos e formou-se como um dos mais vistos no país e, principalmente, como o veículo televisivo por excelência dos expatriados lusos ao redor do mundo. Chegou a ter 35% de audiência. Hoje, este percentual caiu para 19% e sua empresa controladora, o Grupo Impresa, está em recuperação judicial.
Pois a SIC aprontou o seguinte.
Nesta semana, o Supremo Tribunal Federal brasileiro determinou a prisão, a intimação e a apreensão de dados de vários jornalistas e comunicadores que apoiam Jair Bolsonaro, inclusive impondo medidas para proibir a monetização de seu trabalho de divulgação o que, praticamente, o extingue.
Pois não é que a SIC, em seus noticiários, teve o descaramento de informar que Bolsonaro é quem havia solicitado a prisão de jornalistas opositores, numa inversão canalha da verdade?
Você pode não gostar do homem, pode ser até um antagonista ferrenho, detestar tudo o que ele diz ou faz, mas, retorcer deliberada e abjetamente um fato constitui, especialmente levando em conta a responsabilidade da SIC como fonte de informação de milhões de portugueses, dentro e fora do país, um ato de suprema covardia, desonestidade e, para extrapolar o vernáculo, filhadaputice desavergonhada.
Falam tanto de fake news. O que dizer, então, desta falcatrua informativa? Não é assim que se joga limpo.
Infelizmente, não tenho amplitude suficiente para disseminar este meu repúdio como desejo. Mas, eu lhes peço, meus amigos portugueses, que procurem repor a verdade junto à sua roda de contatos. E, daqui para a frente, desconfiar de tudo o que a SIC informa...
Oswaldo Pereira
Agosto 2021