E se o confinamento, o uso obrigatório de máscaras e o distanciamento social demorarem mais do que o imaginado? E se a famigerada segunda onda se abater sobre o mundo? E se a vacina levar mais tempo para se provar eficaz?
terça-feira, 30 de junho de 2020
E SE?
domingo, 21 de junho de 2020
O LIVRO DOS POR QUÊS
segunda-feira, 15 de junho de 2020
REVISIONISMO HISTÓRICO
Em 1977, eu estive em Portugal e lembro-me de ter ido a uma exposição sobre a História do país. Preparada, como sempre fazem os portugueses, com muito requinte e propriedade, a mostra procurava relatar os grandes acontecimentos da saga lusa, desde as vitórias de Viriato contra os romanos até o ano em que estávamos. A Revolução dos Cravos ocorrera há três anos e, significativamente, era uma das efemérides mais festejadas da exibição.
Um imenso e longo painel organizava em rigorosa ordem cronológica a evolução histórica da nação portuguesa e, com citações, pinturas e retratos, exaltava nomes de reis, descobridores, poetas, artistas e desportistas, enfim, todos os heróis do panteão nacional que haviam contribuído para o engrandecimento da pátria. Desde D. Afonso Henriques até Amália Rodrigues e Euzébio estavam todos lá, ao longo da linha do tempo que descrevia os anos desde a ocupação da região pelos visigodos e lusitanos até os anos 1970.
Alguma coisa, entretanto, faltava. O período compreendido entre 1928 e 1974 fora simplesmente ignorado pelo extenso painel. Nenhuma menção, nenhuma foto, nenhuma frase. Era como se aquele interregno de quarenta e seis anos tivesse sido engolido por algum terremoto, apagado por uma amnésia irrevogável. Para os organizadores daquela exposição, ele nunca existira.
Os anos em causa correspondem ao período em que a vida política portuguesa foi dominada por António de Oliveira Salazar. E, durante os primeiros anos seguintes à destituição de Marcelo Caetano e o fim do salazarismo, os que escreviam a história haviam decidido perpetrar um dos maiores atentados que se podem fazer contra o futuro. O Revisionismo Histórico.
Tentar reescrever o passado pela ótica do presente é desonesto e injusto, além de uma rematada estupidez. Julgar atos e pessoas de épocas precedentes utilizando cânones e padrões dos nossos dias é desprezar o contexto, o ambiente e os próprios padrões e cânones vigentes do momento em que tais atos ocorreram e tais pessoas viveram. Tentar extirpar e rasgar as páginas de um livro de História só porque seu texto não agrada aos leitores de outras gerações é, além de inútil, porque os fatos não desparecerão, um expediente de extrema burrice, pois esconde as lições que porventura deveriam estar nelas. Reescrever o passado é a pior forma de preparar o futuro.
Então, é com absoluta incredulidade que observo o que acontece hoje num mundo a que só uma pandemia parece insuficiente para chamar ao bom senso. Sob o pretexto de se repudiar o assassinato de um homem negro por um policial branco (justo repúdio, sem dúvida alguma), numa cidade americana, multidões de levantaram, planeta afora, para vociferar contra o abuso da força policial e contra a escravidão.
Até aí, nada contra, se bem que armar demonstrações de ódio e violência em regiões e países em que o acontecimento de Minneapolis tem pouca chance de se repetir não me parece sensato nem honesto. Mas, daí a querer usar o tema da escravatura e achar justo destruir monumentos e memoriais de personagens históricos só porque, a seu tempo, esses mesmos personagens utilizavam ou valiam-se de mão de obra escrava, é um exemplo imbecil de revisionismo histórico.
Por mais execrável e cruel que o regime escravagista possa ter sido, e realmente o foi, a sua prática só encontrou oposição e repúdio com o Iluminismo e somente a partir da segunda metade do século XIX passou a ser ilegal e criminalizado. Todas as civilizações anteriores o praticaram como forma de conquista e enriquecimento. Desde o tempo dos egípcios.
E, por falar em egípcios, porque estes destruidores de estátuas não vão demolir as pirâmides?
Oswaldo Pereira
Junho 2020