quinta-feira, 23 de agosto de 2018

MOMENTO CRUCIAL



Quanto mais eu penso, daqui de longe, embalado pelas brisas do Tejo, mais eu me convenço de que as próximas eleições brasileiras representam um momento crucial na história do país. Parece retórica ou um dos muitos chavões que abundam na literatura política e na dramaturgia barata. Mas, permitam-me defender este meu professado convencimento.

O Brasil está prestes a completar 200 anos de independência. Nasceu, portanto, pouco depois do apogeu napoleônico e na hora em que ventos libertários sopravam com muita força no continente americano, um vendaval de ideias contra o qual os dois gigantes das descobertas, Portugal e Espanha, e a própria Inglaterra, não mais dispunham de forças para dominar.

Foi um rastilho de pólvora que rendilhou todo o Novo Mundo num festival de novas fronteiras, ditadas principalmente por demarcações comerciais desenhadas nos séculos XVI e XVII. E pela língua. Preservado pelo idioma português, ao Brasil coube um território de dimensões quase incompreensíveis para a época. Incompreensível e ingovernável.

A precariedade das comunicações, o imenso custo para se estabelecerem ligações entre a Corte e o resto do país, a inexistência de caminhos terrestres viáveis foram definindo as limitações da atuação do Governo Central. Do começo do Império até quase o final da Primeira República, o Poder era estritamente palaciano e apenas a extensa faixa costeira, os vales mineiros e o planalto paulista abrigavam a quase totalidade das atividades produtivas e comerciais. E políticas.

Brasília pode ter sido o toque de chamamento para a descoberta do Brasil interior. Mas foram os avanços no transporte, nas novas técnicas da agroindústria e na rapidez dos meios de comunicação que acordaram a miragem das riquezas de um país ainda desconhecido.

Mas, o mal causado por século e meio de loteamento político, usado e abusado pela Monarquia e pelos sucessivos Governos Republicanos, encastelados na Corte e suportados pelas fortunas que haviam ajudado a crescer, estava feito. A marcha para o interior e seu desbravamento foram tutelados pela política clientelista, aquela de favores e jeitinhos, multiplicadora de impostos e propinas. Em pouco tempo, esta cobra insidiosa, agarrada como uma liana na árvore do crescimento brasileiro, já havia parido o seu monstro. A Corrupção.

Com uma eficiência digna de arrepios, o Monstro cresceu e multiplicou-se. E hoje, lustroso e cevado, domina o sistema político-administrativo em todos os níveis da vida pública nacional. E não se esqueçam, amigos. Todo este processo foi feito debaixo dos nossos olhos, à nossa vista, se não com o nosso inteiro beneplácito, pelo menos com a nossa preguiçosa indiferença.

Desta vez, não há mais desculpas. Graças à extensa divulgação pela mídia, à inequívoca conscientização do povo brasileiro e, em não menor medida, às arenas das redes sociais, todos temos a obrigação de saber que o país não vai aguentar muito mais tempo neste ritmo e nesta dança. É o Point of No Return.

Um erro de escolha agora pode ser fatal.


Oswaldo Pereira
Agosto 2018