Quanto mais eu penso, daqui de longe,
embalado pelas brisas do Tejo, mais eu me convenço de que as próximas eleições brasileiras
representam um momento crucial na história do país. Parece retórica ou um dos muitos
chavões que abundam na literatura política e na dramaturgia barata. Mas, permitam-me
defender este meu professado convencimento.
O Brasil está prestes a completar 200
anos de independência. Nasceu, portanto, pouco depois do apogeu napoleônico e
na hora em que ventos libertários sopravam com muita força no continente
americano, um vendaval de ideias contra o qual os dois gigantes das
descobertas, Portugal e Espanha, e a própria Inglaterra, não mais dispunham de forças
para dominar.
Foi um rastilho de pólvora que rendilhou
todo o Novo Mundo num festival de novas fronteiras, ditadas principalmente por demarcações
comerciais desenhadas nos séculos XVI e XVII. E pela língua. Preservado pelo
idioma português, ao Brasil coube um território de dimensões quase incompreensíveis
para a época. Incompreensível e ingovernável.
A precariedade das comunicações, o
imenso custo para se estabelecerem ligações entre a Corte e o resto do país, a
inexistência de caminhos terrestres viáveis foram definindo as limitações da
atuação do Governo Central. Do começo do Império até quase o final da Primeira
República, o Poder era estritamente palaciano e apenas a extensa faixa costeira,
os vales mineiros e o planalto paulista abrigavam a quase totalidade das atividades
produtivas e comerciais. E políticas.
Brasília pode ter sido o toque de
chamamento para a descoberta do Brasil interior. Mas foram os avanços no
transporte, nas novas técnicas da agroindústria e na rapidez dos meios de
comunicação que acordaram a miragem das riquezas de um país ainda desconhecido.
Mas, o mal causado por século e meio de loteamento
político, usado e abusado pela Monarquia e pelos sucessivos Governos Republicanos,
encastelados na Corte e suportados pelas fortunas que haviam ajudado a crescer,
estava feito. A marcha para o interior e seu desbravamento foram tutelados pela
política clientelista, aquela de favores e jeitinhos,
multiplicadora de impostos e propinas. Em pouco tempo, esta cobra
insidiosa, agarrada como uma liana na árvore do crescimento brasileiro, já havia
parido o seu monstro. A Corrupção.
Com uma eficiência digna de arrepios, o
Monstro cresceu e multiplicou-se. E hoje, lustroso e cevado, domina o sistema
político-administrativo em todos os níveis da vida pública nacional. E não se
esqueçam, amigos. Todo este processo foi feito debaixo dos nossos olhos, à nossa
vista, se não com o nosso inteiro beneplácito, pelo menos com a nossa preguiçosa
indiferença.
Desta vez, não há mais desculpas. Graças
à extensa divulgação pela mídia, à inequívoca conscientização do povo
brasileiro e, em não menor medida, às arenas das redes sociais, todos temos a obrigação
de saber que o país não vai aguentar muito mais tempo neste ritmo e nesta
dança. É o Point of No Return.
Um erro de escolha agora pode ser fatal.
Oswaldo
Pereira
Agosto
2018