quarta-feira, 20 de junho de 2018

CR7




Começou a grande festa.

Neste mundo atribulado, a Copa da Rússia serve como uma pequena catarse, um doce oásis em que as emoções escapam atrás de uma bola, trazendo disputas, diferenças e desavenças para as quatro linhas de um campo de futebol. É claro que a vida segue à margem dos estádios, mas pelo menos, durante alguns momentos, o mais importante é o grito de GOL.

Como estou em Portugal, não podia deixar de sentir a proximidade da trajetória da seleção “das quinas”, que é como os da terra carinhosamente chamam o seu time, e da figura de seu expoente maior. Cristiano Ronaldo aqui é deus.

E, até onde eu posso enxergar com a minha percepção de seguidor assíduo desse esporte por quase sete décadas, ele o faz por merecer. Num permanente esforço de superação, CR7 tem feito o que o planeta exige dele. Tem matado um leão por dia.

Teoricamente, esta seria sua última copa. Mas, nada é certo. Recentemente, exames constaram que Cristiano Ronaldo, embora tenha já 33 anos, detém a forma física de 25. E isto não é nenhuma surpresa. Desde o início da carreira, ele obedece a uma auto imposta disciplina de treinos e dedicação. Sempre foi o primeiro nos ginásios e o último a sair. Não fuma e, por ter perdido o pai cedo, vítima de alcoolismo, não bebe uma gota. Por ser doador regular de sangue, talvez seja o único jogador de fama que não ostenta uma tatuagem sequer.

Como pessoa, tem-se desdobrado em ajudar financeiramente várias organizações dedicadas à infância e são inúmeras as ocasiões em que aparece ajudando crianças carentes ou com doenças graves. Há dois dias, após o jogo contra a Espanha, desceu do ônibus que levava a delegação portuguesa para o hotel e confortou um garoto que chorava, dando-lhe uma recordação para toda a vida.

Por qualquer parâmetro que se examine, é um jogador decisivo. Basta rever os inúmeros lances de seus jogos, desde os tempos do Manchester United. Na história do futebol português, desde Eusébio não aparece ninguém como ele. Na partida de sexta-feira passada contra os espanhóis, repetiu a dose e seu gesto de “eu estou aqui”. Está, sempre.

Só para comparar, Cristiano Ronaldo converteu o pênalti que sofreu, chutou a bola que queimou a mão do De Gea e bateu com extrema competência a falta. Três gols. O Messi não fez nada disso. Nem o Neymar...

Oswaldo Pereira
Junho 2018

quinta-feira, 7 de junho de 2018

AGRURAS DE UM BLOGUEIRO


Estou no lado Primavera do mundo. E aqui estive desde o início do mês passado, mudo e quedo diante de um planeta que, de uns tempos para cá, tem inventado coisas que me deixam sem palavras.

No entanto, as palavras, essas, vêm aos borbotões, extravasando pelas bordas das redes sociais, sem peias nem censuras, espalhando-se como formigas de uma imensa colônia, levando as notícias já interpretadas, comentadas e, como não podia deixar de ser, distorcidas pelo humor pessoal de quem as dispersa pelo universo.

Hoje, sabemos o que se passa ao minuto. Os smartphones nos acordam a cada momento com seus pings apressados, revelando desde a interrupção de um cotidiano do outro lado desta bola azul a que chamamos Terra até a mais recente receita de pãozinho de leite da tia Joana. Tudo é notícia.

Como escrever num mundo assim? Que assunto posso eu cogitar cujo interesse consiga arrebatar a atenção de um leitor atormentado pela enxurrada constante de sms’s, bate-papos no WhatsApp, recadinhos no Twitter e em outros salões virtuais de comunicação, cujos nomes me escapam e me deixam inquieto.

Que futuro temos nós articulistas, blogueiros, colunistas, num cipoal de informações ao segundo, velozes e invasivas? Chegaremos sempre depois da notícia, oferecendo frases de segunda mão, pratos já frios, tardios e irrelevantes, montados em asnos enquanto todos já partiram em suas naves espaciais.

Não podemos mais competir. O que falaremos ou escreveremos irá para um arquivo morto. Soará como uma cantiga envelhecida e avoenga, cuja música quase inaudível se perderá no torvelinho vibrante dos cliques e da movimentação frenética dos polegares em cima de teclados iluminados.

O tempora! O mores!, diria Cícero se cá estivesse. Aliás, talvez nada dissesse e sim mandasse célere uma mensagem digital aos senadores, com uma selfie sorridente...

Oswaldo Pereira
Junho 2018