sábado, 22 de março de 2014

CASTING

Em inglês, o verbo to cast possui diversos significados. Pode ser traduzido como arremessar, lançar, projetar, moldar. Consequentemente, o seu substantivo, cast, pode ser entendido como lançamento, arremesso, moldagem ou molde, com vários derivados. O gesso que serve de imobilização para uma fratura, por exemplo, é chamado de cast. Cast também é usado para indicar matiz de uma cor e até, em alguns casos, é sinônimo de device, ou seja, um dispositivo ou um aparelho.

Mas, um dos usos mais conhecidos da palavra é o de ser empregado no sentido de elenco, isto é, o rol de atores convidados a atuar numa peça ou num filme. To cast passa então a significar selecionar, escolher e casting a ação de encontrar o artista ideal para um determinado papel. É fácil perceber a crucial importância do casting na montagem de um espetáculo artístico. Uma escolha equivocada pode determinar o completo fracasso de uma produção milionária. No sentido contrário, uma boa seleção salva um roteiro medíocre. É um trabalho eminentemente profissional, que une produtores, diretores e incontáveis agências patrocinadoras de estrelas, cujo “patrimônio” em termos de atrizes e atores sob contrato pode gerar alguns bons milhões de dólares.   

E é neste conjunto de forças que as negociações acontecem. Em pauta, estão talento, popularidade, disponibilidade e preço. Dizem que alguns outros expedientes mais íntimos também trabalham a favor, ou contra. Não importa. Tudo depende do objetivo maior, que interessa tanto a quem está bancando a aventura, como aos que verão seus nomes ligados a ela. Um flop contundente pode diminuir substancialmente a conta bancária dos Studios e destruir várias carreiras. Um megahit, uma nomeação para os inúmeros prêmios em voga, um sucesso de bilheteria poderão produzir fortunas instantâneas e a idolatria universal.

A História do Cinema está cheia de ambos. Há castings sensacionais, que entraram para os anais da indústria como paradigmas de uma escolha certa, desde Rodolfo Valentino em The Sheik até Matthew McConaughey em Dallas Buyers Club. É preciso um agudo faro para balancear aptidões natas para determinado papel, capacidade interpretativa para se adaptar a ele e salário dentro do orçamento. E há várias estirpes de atores. Há os que se repetem e tornam sua personalidade um ativo altamente vendável, moldando o personagem que representam àquilo que são, criando um estilo, como Laurence Olivier, John Wayne,  Harrison Ford ou Elizabeth Taylor. E há os camaleões, que se transfiguram para “entrar” na persona que o roteiro cria, ficando quase irreconhecíveis para compor o tipo que o texto requer. Johnny Depp, Meryl Streep, Sir Alec Guinness, Anthony Hopkins e tantos outros aí se classificam. Alguns pisam a fina linha divisória entre uma coisa e outra, como Marlon Brando, que tanto podia ser um oficial nazista em The Young Lions, um capo mafioso em The Godfather ou um militar renegado em Apocalypse Now. Mas, a famosa Brando stance, a inconfundível (e estupenda, diga-se de passagem) marca registrada do ator estava lá, vibrando debaixo do disfarce.

Quando, entretanto, a produção refere-se à biografia de alguém, a coisa complica-se mais um pouco. Como, geralmente, os biografados, e agora encenados, são figuras históricas, famosas, sobejamente conhecidas e, em muitos casos, objetos até de culto ou admiração, é natural que o público espere uma simbiose o mais perfeita possível entre ator e representado, inclusive em termos de proximidade física, convincente o bastante para tornar verossímil a representação. E aí, a solução é encontrar alguém que tenha naturalmente o physique du rôle ou talento suficiente para, com algumas ajudas da turma do make-up, resolver o problema. Já vi de tudo. Na categoria de atores pouco parecidos com seus personagens, mas cuja arte dramática conseguiu fazer com que efetivamente se visse o biografado, eu citaria como exemplo Leonardo DiCaprio em The Aviator (O Aviador). Embora fisicamente nada parecido com o excêntrico Howard Hughes, o ator o fez reaparecer autêntico e reconhecível. No mesmo filme, a extraordinária Cate Blanchett ressuscita, inteira e viva, a memorável Katharine Hepburn. Outro exemplo? George C. Scott em Patton. Mesmo passando para debaixo do tapete o fato de que a voz anasalada e roufenha que Scott usa nada tenha a ver com o registro altíssimo, quase infantil, do famoso general, a poderosa interpretação do ator é extremamente convincente. Querem mais? Helen Mirren em The Queen, Meryl Streep (sempre ela) em The Iron Lady, Kirk Douglas (como um atormentado Van Gogh) em Lust for Life, Robert Downey Jr em Chaplin, Jamie Foxx em Ray, Marion Cotillard em La Môme e o nosso Caco Ciocler, um irrepreensível Luiz Carlos Prestes em Olga.

Mas, quando, além de talento, o ator ainda parece-se fisicamente com o personagem histórico, aí é o melhor dos mundos. Clássicos como Ben Kingsley em Gandhi, Daniel Day-Lewis em Lincoln, Salma Hayek em Frida, Bruno Ganz em Der Untergang estão aí para confirmar. Então, resolvi oferecer algumas sugestões aos nossos amigos produtores e cineastas. Por exemplo:

.Cuba Gooding Jr para o papel de Louis Armstrong


.Liam Neeson para representar o jovem Fidel Castro



.Brad Pitt para fazer a vida de James Dean



.Jean Dujardin como Gene Kelly



.Kevin Kline representando Errol Flynn




E, last but not least, Jonathan Pryce para o papel principal de Papa Francisco…




Oswaldo Pereira

Março 2014

5 comentários:

  1. Isso aí Oswaldo. Vc acertou em cheio, menos no Armstrong. Os traços fisionomicos podem até se assemelhar, mas o feeling de CJ não atesta o carisma do músico.,

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  2. Liam Neeson, Jean Dujardin, Brad Pitt, Kevin Kline são sósias e eu já os pusera na minha lista. Não pensei nos Jonathan Pryce e no Cuba Gooding Jr. Mas parabens. This is the right cast. Abraço do João Lustosa

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  3. Bem observado!
    Sofia :)
    (filha da La Salette)

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  4. a postagem é antiga mas foi a única que encontrei na internet, sempre achei que cuba good jr era parecido com louis armstrong alem de parecido a careta que ele faz também é parecida, se lançarem um filme sobre a vida dele o cuba poderia ser o louis

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    1. Glaucio, muito obrigado pelo seu comentario. Gostaria muito que voce se tornasse um leitor do meu blog. Se quiser, mande-me o seu e-mail e eu o poderei incluir na minha lista de leitores. Um abraco.

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