Sob
pena de ficar repetitivo, tenho de, mais uma vez, falar da minha desconfiança
de refilmagens. Lembro-me até de ter, algures nos arquivos deste blog,
apontado vários equívocos perpetrados por produtores e diretores de cinema
ao tentar repetir enredos e histórias contados em filmagens anteriores.
Diferentemente de um trabalho inédito, as versões posteriores sempre sofrem o
peso da comparação. Gostei mais do outro é uma frase que amiúde escapa,
mesmo quando a qualidade da cópia possa ser, sob certos aspectos, maior do que
o original.
Mas parece que, atualmente, uma infestação de remakes assola a indústria cinematográfica americana. Só nos Oscars deste ano, três dos indicados a melhor filme eram repaginações: Dune, o vencedor CODA (recontando a história do francês La Famille Bélier) e West Side Story. E é sobre este último que eu quero externar minha decepção.
Como acima mencionei, refilmagens são perigosas por acionarem a memória de uma experiência sensitiva que pode colidir frontalmente, para o bem ou para o mal, com a nova proposta. Em cima disto, oferecer uma nova leitura de um filme clássico exige uma superior dose de inovação, imaginação e criatividade para tornar melhor o que já era bom. Normalmente, embora o tema básico permaneça no fundo, a nova produção às vezes muda a época, transforma o gênero da obra, faz de um filme sério um musical, repinta os cenários, rearranja os lugares. E, mesmo assim, é sempre um risco.
Quando, entretanto, trata-se de um filme definitivo, um marco antológico da sétima arte, uma esquina criativa que mudou a maneira de fazer cinema e que influenciou, a partir daí, o que depois veio, aí a coisa pega. E o West Side Story de Spielberg naufraga. O primeiro grande erro foi manter o mesmo ambiente, o mesmo desenho e a mesma estrutura cenográfica do original. Isto faz com que a comparação fique inevitável, ineludível, cena por cena, atuação por atuação. E, no taco a taco, o novo perde em todos os quesitos para o antigo.
À provável exceção da cena em que Rita Moreno (a Anita de 1961) canta Somewhere, a emoção está ausente todo o tempo. E com ela o encanto, a genialidade, a inovação, o deslumbramento que minha geração experimentou ao assistir ao primeiro West Side Story. É isso. Não dá para esculpir de novo uma Pietà ou repintar a Noite Estrelada.
Melhor fora que não tentassem...
Oswaldo
Pereira
Abril
2022
Olá Oswaldo.
ResponderExcluirConcordo com a sua observação.
Que viu o filme original se decepciona com a refilmagem.na época nos , mais jovens e românticos,estávamos no clima.
Gostaria de saber a opinião de um casal jovem entorno de de 17 anos.
ABS.
Gonzalo
Tão jovens assim, eu não sei qual seria a reação. Não creio que os meus netos tenham já visto o filme. Mas, os meus filhos (que estão na faixa dos 50) também detestaram esta nova versão.
ExcluirAmigo, impressionante como pensamos em diversos assuntos de forma igual, posso ver pelos seus inúmeros artigos.
ResponderExcluirA quantidade de remakes hoje em dia, e sempre piores que os originais, e se prende a uma triste constatação de que a Arte de uma maneira geral, atingiu seu ápice. Como você bem termina seu artigo: Não dá para esculpir de novo uma Pietà ou repintar a Noite Estrelada. A Cópia é sempre inferior, pois temos o Original.
bjs Zezé
O mundo ficou culturalmente pobre. A enxurrada diária de informações, a necessidade de processa-las rapidamente para continuar "antenado ", a prosa abreviada pelos emojis, a música banalizada, a literatura supérflua... está difícil...
ExcluirImagina se alguém se arriscaria a fazer um remake da Noviça Rebelde. Com certeza seria uma lástima.
ResponderExcluirNão vi o remake de West Side Story e, depois de seus comentários, nem pensar.
Aquela trama não se enquadra mais nos dias de hoje. No seu tempo fazia todo sentido. Enredo se peso, trama e música fantásticas. Saudades dos bons musicais.
Espero que jamais tentem refilmar Cantando na Chuva ou Sete Noivas para Sete Irmãos...
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