O when will they ever
learn?
Oh!
Quando irão finalmente aprender?
Este verso é o refrão da música composta por Pete Seeger em 1955 “Where Have All The Flowers Gone?”. Na década de 1960, a canção tornou-se um símbolo de protesto contra a Guerra do Vietnã. Aliás, contra todas as guerras. Só que elas nunca deixaram de existir. Há sempre soldados, túmulos e flores. Agora, é a vez da Ucrânia.
Na realidade, o país quase nunca teve paz. Estrategicamente localizada e um imenso celeiro de grãos, a Ucrânia sempre viu estas supostas benesses se transformarem em maldição. Desde invasões da Horda Dourada de Gengis Khan até o domínio nazista, passando pela tragédia da fome na época de Stalin, que ceifou cinco milhões de ucranianos, a Ucrânia já teve sua excessiva dose de conflitos.
Ligada à Rússia quase umbilicalmente desde o século XVII, sua dependência política oficializou-se em 1922; a República Soviética Ucraniana foi uma das primeiras a compor a URSS. Com o desmantelamento do mundo soviético em 1989, o país tornou-se independente. Mas, aos olhos de seu poderoso vizinho, nunca deixou de pertencer-lhe cultural e politicamente.
E é exatamente isto que Vladimir Putin quer demonstrar. A coisa vem de alguns anos, com a aumento da presença da OTAN no leste europeu. O desaparecimento do bloco soviético teve, com uma das consequências, o desmonte do Pacto de Varsóvia, a contraparte militar dos países comunistas ao poderio bélico do Ocidente. Rapidamente, os Estados Unidos e a Comunidade Europeia procuraram cooptar os Estados que haviam se soltado quando o pacote soviético se desembrulhou.
Para a OTAN, a Ucrânia é a cereja do bolo. Até recentemente, isto, entretanto, seria apenas uma miragem, haja vista a enorme influência russa nos rumos da nação ucraniana. Acontece que a eleição de Volodomir Zelenzky, um ator comediante, veio embaralhar o jogo e a eventualidade de a Ucrânia se juntar à OTAN começou a parecer não tão distante. E isto Putin não pode engolir. Em vários de seus recentes pronunciamentos, ele vem explicitamente sinalizando isto. Mísseis da OTAN a 600 quilômetros de Moscou seria o equivalente a bases russas em Guadalajara. Aceitariam isto pacificamente os Estados Unidos? É a pergunta que ele faz.
Sem esperar pela resposta, a Rússia invadiu. Logo no dia seguinte ao 22/02/2022, data celebrada pelos místicos em todo o mundo como um novo portal de paz...
Os dados estão lançados. Quem os jogou é um político experiente, frio, calculista e pouco afeito a brincadeiras. Do outro lado, temos um presidente senil, uma ONU sem poder de fogo e dirigentes europeus amedrontados e fracos. Todos eles sabem que as tais “sanções” prometidas pelo Ocidente são pífias e a Rússia poderá conviver com elas por anos. Em contrapartida, com 40% do gás natural e 20% dos grãos que a Europa consome para viver, além do segundo maior estoque de ouro do mundo, os russos podem causar um estrago infinitamente maior.
O que irá acontecer? Não faço a menor ideia. Tenho é uma imensa pena dos jovens soldados e dos civis que irão perder suas vidas e suas esperanças. As flores irão de novo adornar os túmulos. O when will they ever learn.
E o irônico da coisa é que Pete Seeger declarou que, para compor Where Have All The Flowers Gone? ele teria se inspirado numa canção folclórica chamada Koloda Duda, cantada por gerações pelos cossacos da Ucrânia...
Oswaldo
Pereira
Fevereiro
2022