domingo, 16 de maio de 2021

MEUS NEURÔNIOS

 


Será que os meus cansados neurônios estão-me traindo? Coitados, penso. Devem ter razão, depois de tantos anos ao serviço da minha sanidade, ao descuidarem-se aqui e ali e rebelarem-se contra a fadiga das décadas, muitas, em que prestaram, com denodo exemplar, sua difícil missão.

Em sua defesa, venho eu contemporizar que, além do desgaste do tempo, também é assaz demandante tentar permanentemente entender Pindorama, um país que não é para amadores, principiantes e neurônios já elegíveis a uma merecida aposentadoria.

Como não perdoá-los quando não entendem e, menos ainda aceitam, calinadas ao melhor estilo nonsense com que os nossos homens públicos nos brindam com assustadora frequência. Por exemplo.

O Ministro Luiz Roberto Barroso, ínclito membro do Supremo Tribunal Federal e, em sua outra capacidade, Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, em resposta à possibilidade de se aparelhar as urnas eleitorais eletrônicas com a impressão concomitante e automática do voto digitado, saiu-se com duas declarações inacreditáveis.

Para os que me leem fora do Brasil, explico. Desde há 25 anos, a votação brasileira é realizada através do uso de urnas eletrônicas. Seu advento veio substituir o voto por cédulas de papel e visou acelerar o processo de apuração. Até aí, beleza. Só que este método impede qualquer comprovação adicional, fiando-se simplesmente na integridade dos programas e operação dos sistemas.

Numa era em que a expertise dos hackers atingiu níveis estratosféricos, é de se esperar que seria no mínimo recomendável a existência de um método paralelo de segurança. Ninguém, mesmo com um resquício rudimentar de inteligência, pode hoje garantir a total inviolabilidade de qualquer software. Assim, a existência de um comprovante traria uma confiabilidade maior ao sagrado exercício do voto e permitiria a recontagem e auditoria dos mesmos em situações de desconfiança e suspeita.

Resta ainda a circunstância de que, em todo o mundo, aqueles países que adotaram o voto eletrônico já implantaram o recurso a uma verificação paralela. O Brasil é o único que não o fez.

Então, o que vem nos dizer o Ministro Barroso? Em primeiro lugar, que ele acha a pretensão do voto auditável um atentado à Democracia... Hein? perguntam os meus horrorizados neurônios. Não satisfeito, ele afirma que, nos últimos 25 anos, nunca se detectou uma fraude na votação. Mas, continuam meus neurônios baralhando suas sinapses, como saber se houve ou não fraude num sistema sem comprovação??

Demais, para eles. Assim, fica difícil...

Oswaldo Pereira

Maio 2021

 

7 comentários:

  1. Tambem eu, fico me perguntando PORQUE ??? tantos desqualificados ascendem e gostam tanto do Poder ???

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    1. O pior é constatar que estão lá porque os deixamos estar lá...

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  2. Osvaldo, isto é o obvio que os 11 abutres se recusam a aceitar!! Tudo pelo poder, ganância e o que há de mais baixo no ser humano, e extendido ao Congresso ao Senado, a a determinados Governadores e Prefeitos.

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  3. Acho que estamos totalmente certos em exigir segurança e absolutamente errados quando não há sistema de contagem física de votos que não violem o sacrossanto direito ao voto secreto. Se descobrirem uma fórmula, mando um recado ao neurônio que resta dizendo que deve haver comprovação. Um adendo. A urna eletrônica não está em rede. Só depois da contagem de cada urna é que entra no sistema. A partir desse ponto, o voto escrito é mais fraudável na contagem, enquanto o eletrônico vem certificado pela máquina e só a partir de então a fraude é possível porque alguém tem colocar os dados no sistema. Por isso o meu único neurônio que resta entende que o ministro Barroso tem razão.

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  4. Rsrsrs... Um dos meus neurônios entendem isto. O outro, entretanto, continua achando que o complemento impresso daria uma segurança adicional. Quot abundat non nocet...

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  5. Que a urna eletrônica não esteja em rede tudo bem. Mas uma invasão no software de totalização não é nada impossível. Basta inserir um qualquer 'script' e tudo desanda.
    Como você bem disse Oswaldo, 'quod abundat non nocet'.

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