Sou,
confessadamente, um frequente leitor de jornais. Em papel, às antigas. Não
podia deixar de ser, haja vista minha avançada contagem de anos vividos. Faz
parte dos atributos da dita terceira idade (ô
lugarzinho comum desgastado...), imersa nas tradições do passado milênio,
das visões de pequenos jornaleiros apregoando as “últimas” das edições
vespertinas, dos diários sendo
colocados na soleira das portas junto às garrafinhas de leite.
Para
mim, criança nesse passado distante, o jornal era a porta aberta para o mundo
fantástico das histórias em quadrinhos, um reino onde Mandrakes, Fantasmas e Brucutus enfrentavam os perigos e salvavam
as mocinhas. Depois, passou a ser o arauto dos filmes em cartaz, o analista dos
jogos de futebol que só ouvíamos pelo rádio, o revelador das radiofotos de algum cantor de sucesso.
Até que, no desabrochar da maioridade,
transformou-se no livro de História contemporânea no qual os acontecimentos que
moviam o mundo vinham instantâneos para dentro das nossas casas.
Era
inevitável que este amor permanecesse até hoje. Estando aqui ou em Portugal,
sinto um requintado prazer enquanto abro as páginas dos meus jornais de eleição.
Assim, foi com compreensível alegria que soube do renascimento do “Jornal do
Brasil”.
O
JB teve minha imediata preferência quando retornei ao Brasil em 1971. Seu
jornalismo era ágil, inteligente. Seu desenho gráfico era agradável e inovador,
gênios da palavra dedilhavam as máquinas de escrever da redação e magos da
criatividade davam um fulgor especial ao já lendário Caderno B, um permanente
festival de homenagem à cultura. Em rio
de piranhas, jacaré nada de costas e, empastelado
várias vezes desde sua criação, na Primeira República, até o Estado Novo, o
jornal, para manter sua sobrevivência durante os governos militares,
submetia-se à censura. Mas, sabia driblá-la com fino humor e requintado bom
gosto. Foi com um confiante sorriso nos lábios, então, que saí da banca
sobraçando a primeira edição deste seu renascimento.
Para
sofrer uma decepção!
O
novo JB é um espectro. Seu desenho ficou datado,
não há mais gênios nos laptops da
redação, sente-se um incômodo diletantismo permeando suas colunas e artigos. Mais
deplorável ainda é o ranço de sua linha editorial. Na edição que comprei,
questionava-se a reserva comedida do interventor do Rio (“O Interventor Esconde
o Jogo” era a manchete rala da primeira página), quando, desde Sun Tzu e Maquiavel,
se sabe que o segredo das informações é primordial na arte da guerra. Em outra
parte, investia contra o então Ministro da Defesa, Raul Jungman, por ter
declarado que alguns daqueles que reclamavam contra o domínio do tráfico de drogas
eram os mesmos que o financiavam ao comprá-las. Um frontal ataque ao Rio, vociferavam, não percebendo a obviedade
da declaração de Jungman.
É
claramente perceptível, também, o forte alinhamento do JB com a esquerda
histórica. Não tenho nada contra. Sempre defendi que cada jornal tem o direito
de adotar a cor política que seus acionistas preferirem. Mas também acho que a
polarização direita-esquerda perdeu seu sentido no Brasil de hoje. O país está
dividido em duas camadas. Os que roubam e os que pagam. As legendas partidárias
não querem dizer mais nada. No Congresso, o que há são bancadas. A da Bala. Da Bíblia. Do Boi. Et caterva. Centrar o foco do jornal num discurso superado e inócuo
é uma perda de tempo.
Espero
sinceramente que o Jornal do Brasil conserte o rumo. Será uma pena, se não
fizer.
Oswaldo Pereira
Março 2018
Todo lo que afirmas, es verdad.
ResponderExcluirUnUabrazo.
G. Prisco
Gracias, cara.
ExcluirComentei ontem, mas acho q não ficou registrado.
ResponderExcluirQue pena, Ana... Adoraria ver seus comentários.
Excluirtambem fui fa do JB, usava muito os editoriais para traduzi-los para frances ou ingles quando entava o Itamaraty. Uma pena que nao esteja mais a altiura...
ResponderExcluirPois é, uma expectativa frustrada....
ExcluirOI Oswaldo. Não li mas depois de seus comentários nem vou correr atrás. Uma pena. Era também meu jornal de preferência. Como diria o velho Cicero: o tempora o mores.
ResponderExcluirGrande abraço
Se Cícero já dizia isso há dois mil anos, imaginem o que não diria hoje...
ExcluirRecomeçar com o pé esquerdo ...... lamentável.
ResponderExcluirCom dois pés esquerdos...
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